Últimas memórias do primeiro resgate

Foi no dia 26 de Dezembro, resolvi ir até a lotérica colocar dinheiro no bilhete único com medo da tarifa aumentar logo no dia 1º do ano! Ao chegar me deparei com uma fila enorme... Teriam pensado o mesmo que eu? Não, havia muito velhinho na fila, prontos para a "mega sena da virada".
Os minutos que passei na fila, não pensava em outra coisa a não ser qual era a melhor forma de dar a vez para o senhor atrás de mim, conforme manda a educação, bom senso e placa bem na minha frente.
"-Por favor, o senhor pode ir!
- Mas por que?
- Bem, porque o senhor já tem cabelos brancos!
- Mas eu só tenho 82 anos minha filha! Agradeço, mas pode ir que eu não tenho pressa!"
Eu fui pensando na frase "Eu não tenho pressa", como será chegar aos 82 anos e não ter pressa?! Pela ordem natural das coisas ele estaria mais perto do fim, não era hora então de ter pressa?
Foi quando me lembrei destes poucos meses de projeto, das últimas conversas, do tempo da velhice do qual tanto conversamos: as pausas, as histórias, as recepções com cuidados mínimos de quem tem tempo, e me lembrei de que ao sentir vontade de um doce, eu tenho pressa, vou correndo comprar, abro a embalagem correndo, pego o doce e mordo e... A partir desse momento cada mastigada é mais devagar que a outra, e quando meu, geralmente, brigadeiro vai chegando ao fim, eu mordo pequeno, com calma, e suspendo o tempo o quanto posso pra viver aquele sabor... Essa deve ser a lógica da vida.
Essa deve ser a lógica de Sr. Mário que teve a pressa em colocar o doce de abacaxi em cima do meu sorvete mas não em dar voltas para contar o simples caso de como conheceu sua falecida esposa, de Dona Lina que com calma retirou uma toalha limpa para que eu enxugasse as mãos ao sair do banheiro, de Sr. Aécio ao mostrar os seus quadros e se mostrar disponível, Sr. Elzo ao apertar a memória lembrando seus sambas, sua companheira ao aguardar que seu marido terminasse de falar para terminar suas histórias, pois ele não a escutava e por isso não sabia que ela estava contando outras para mim! Enfim, tantas e tantas suspensões de tempo que permitiram tantos cuidados com detalhes pequenos que enfim motivaram nossa estadia de dois dias naquela praça, na qual com o cuidado que sabemos mostramos um pouco do que apreendemos, procurando receber e trocar constantemente!
Por fim, agradecemos as memórias de 2012 e construiremos ainda muitas até 2014!

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